terça-feira, 6 de dezembro de 2016

A Última Invenção da Humanidade: Parte 1

Ola de novo meus fio!

Hoje eu venho falar pra vocês de uma coisinha piticucucha e nada importante: é bem provável que, em algumas décadas, você, eu e todo mundo estaremos obsoletos, ou pior, mortos.

Porque? Bem, em resumo, é porque nós somos feitos de carne.

E carne é uma bosta, literalmente, se for capaz de imaginar toda a cadeia de transferência energética dos ciclos da natureza.

Na verdade, hoje eu iria escrever sobre uma palestra bem importante de um certo acadêmico israelense. Mas ai eu parei pra pensar que, se vocês não souberem o que vou descrever agora, vocês nunca vão entender as reais razões por trás dessa exposição.

Então, meus fio, hoje vamos falar sobre inteligência artificial.

Vocês devem conhecer o termo de algum filme, videogame ou coisa parecida. Acontece que a maioria das pessoas não tem a mínima ideia de todo o cenário por trás desse termo, nem do que ele realmente representa.

Inteligência artificial foi um termo inventado por John MacCarthy do Instituto de Tecnologia de Massachussets, nos Estados Unidos. Embora pareça futurista, considera-se que experimentos e estudos no desenvolvimento de maquinas inteligentes já existem desde a metade do século 20.

A ideia básica de inteligência artificial é de criar uma máquina capaz de pensar de forma inteligente, ou seja, de um modo similar, igual, ou superior a um ser humano. As consequências disso para a nossa existência e talvez à própria vida no nosso planeta são gigantescas.

E isso pode estar prestes a acontecer.

Vamos brincar um pouco com perspectiva. Primeiro, quero que você imagine que você tem uma máquina do tempo. Você usa essa máquina do tempo pra ir ao passado, até por volta do começo do século 19.



E lá você encontra um homem pobre chamado Ben,



Você leva ele até sua maquina e traz ele com você de volta para o presente.



Agora, vamos pensar; apenas 200 anos atrás, o meio de transporte mais popular era uma carroça puxada por animais. Automóveis ainda não existiam, a locomotiva era uma invenção recente e ainda estava em processo de implementação em larga escala (ferrovias levam bastante tempo e muita mão de obra para serem construídas).

Aviões sequer existiam conceptualmente e eram considerados algo impossível por muitos. A maioria das pessoas viviam com uma quantidade de nutrientes e calorias diárias inferiores a um almoço normal dos dias de hoje e trabalhavam em média 12 horas (ou mais) ao dia. Estradas eram feitas de pedra ou de terra compactada, banheiros internos eram coisas que só a elite tinha e redes de esgoto eram algo impensável para qualquer localidade que não fosse uma grande cidade. Os meios de comunicação consistem apenas do correio, que era caro e vagaroso, sendo que nem o telégrafo ainda existia.
As pessoas tinham uma expectativa de vida média de 35 anos ou menos e a grande maioria morava fora dos centros urbanos.

Esse é o mundo em que Ben viveu por toda a sua vida.

Aí você o leva para o futuro, para que ele vislumbre o mundo atual: a população urbana já superou em muito a rural, as cidades são pavimentadas e cheias de automóveis. A grande maioria das pessoas carregam dispositivos pequenos que permitem a eles se comunicarem por voz, texto e imagem a distâncias globais e de forma quase instantânea, e elas também possuem dispositivos que recebem transmissões de imagem e som em suas casas, e boa parte delas possui computadores que podem acessar uma gama de informações muito superior a uma coletânea de todos os livros de todas as livrarias de todo o mundo.
As pessoas trabalham em média 8 horas ao dia e recebem bem mais do qualquer fazendeiro dos século 19. Quando querem viajar, podem pagar para serem transportadas por grandes distâncias pela terra, água e ar, afinal avões não só existem, mas são usados amplamente.
As guerras entre grandes países quase deixaram de existir, porque hoje existem armas capazes de devastar toda a terra se forem usadas amplamente.



Posso te dizer com toda a certeza que o Ben ficaria meio surpreso com isso tudo. Na verdade, é bem possível que ele desmaiasse ou morresse de puro choque. Ben se sentiria como se estivesse entrado numa história de fantasia, ou levado para outro mundo.



Isso é porque, graças a tecnologia, nós realmente vivemos em outro mundo, hoje.

Agora, imagine que você, em sua maquina do tempo, resolvesse ir pra cerca de 100 anos no futuro a partir de agora.

Garanto que você teria uma reação bem parecida a do Ben. Como eu sei disso? Ora meu fio, vamos pensar.

Em menos de 200 anos, nós saímos do mundo pobre, chato e triste do Ben e criamos o atual. Claro, ele ainda tem muitos problemas, mas é incomparável ao anterior, e muito, muuuuuuuuito melhor em todos os sentidos.

Isso porque, se observarmos a história, é possível perceber que o progresso tecnológico não se move de forma linear, ou seja, com incrementos regulares. Em palavras menos frescas, isso significa que o progresso da humanidade não pode ser medido em sequencias como "1, 2, 3, 4, 5...", porque ele não se comporta de forma linear.

Se olharmos para a história do progresso humano, verificamos de cara que ele se desenvolve de forma exponencial. Ou seja, ele pode ser representado por uma sequencia exponencial, tal como "1, 2, 4, 8, 16, 32, 64..."

Esse fenômeno foi chamado por Ray Kurzweil (executivo do google, inventor e um dos mais prominentes nomes do desenvolvimento tecnológico de hoje) de "Law of Accelerating Returns", algo como "Lei da Aceleração dos Rendimentos".

Tal ideia surgiu de considerações de Kurzweil sobre os efeitos da Lei de Moore, um conceito criado por Gordon Moore, um dos co-fundadores da Intel. A Lei de Moore foi uma previsão de que o número de transistores de cada circuito integrado dobra a cada ano, uma tendencia observada nos avanços tecnológicos da década passada, ou seja, Moore previu toda a onde de miniaturização da tecnologia que criou o mundo em que vivemos hoje.

Kurzweil pegou essa ideia e a aplicou a todo o progresso tecnológico da humanidade, e acabou descobrindo algo interessante: toda a humanidade parece desenvolver tecnologias seguindo essa tendencia de melhoria exponencial. Isso se dá, em grande parte, porque quando você cria um computador melhor que o seu anterior, este computador novo te permite projetar um computador melhor ainda de forma mais rápida, pois você está utilizando uma ferramenta melhor do que a que você tinha anteriormente.

Claro, essa noção não está imune a criticas, mas se eu ficasse aqui discutindo esse assunto, esse artigo ficaria longo demais, então vou deixar isso pra depois.

Vamos voltar ao assunto principal, sabe, aquela coisa sobre inteligência artificial.
Algumas décadas atrás, muita gente descreditava a ideia de que maquinas conseguiriam superar o ser humano em todos os sentidos.

Nos últimos anos, essa ideia mudou radicalmente, não só por causa do desenvolvimento exponencial da tecnologia, mas por causa do fato de que já existem inteligências artificiais superiores ao homem, elas apenas não são superiores ao homem em todos os sentidos.

Ainda.

Vamos falar disso na parte 2, porque agora estou com preguiça. Até lá meus fio!

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

"Echo Chambers", ou Porque Todos Achavam que Hillary Clinton Seria Eleita

Calma ai meu fio, acha que eu vou falar de política né? Te peguei, huehuehue.
Na verdade vou falar um pouquinho de política sim, então aguenta aí.

Então meus fio, ao que parece, a grande maioria das pessoas, (não só os americanos) bem como a gigantesca maior parte da mídia nacional e internacional ficou totalmente estupefata com o fato de Hillary Clinton, a santíssima velhinha sem defeitos (conforme veiculado pela mídia em geral até algumas semanas atrás) não só foi derrotada nas eleições, mas com significativa vantagem do emblemático candidato republicano, o infame Donald Trump.

Quando o resultados ficaram claros, vi muita gente por a mão na testa (tanto de forma figurativa quanto literal) e dizer coisas como "meu deus! como diabos isso pode ter acontecido!", "não é possível!", "é mentira!", "quero uma recontagem!", etc.

De fato, muita gente simplesmente se recusou a aceitar que isso tenha acontecido, o que na verdade não é nada surpreendente. É dar uma olhada em como eram as manchetes e as pesquisas eleitorais antes da eleição: praticamente todas apontavam uma vitória fácil e esmagadora de Clinton. Apresentadores de talk shows americanos faziam piadas dia e noite a fora sobre a candidatura de Trump, vista como uma piada e, na melhor das hipóteses, como uma catástrofe anunciada para o partido republicano.

Não vou te falar sobre toda a trajetória de Trump até ele se tornar um político, nem das específicas razões de Hillary ter perdido feio até em lugares em que o seu principal aliado, o atual Presidente Barack Obama, foi eleito não uma, mas duas vezes. E sim, eu sei que ela ganhou no voto popular, mas foi por uma margem proporcionalmente insignificante, e quem conhece bem o cenário político americano dos últimos 8 anos sabe bem que o fato de um candidato republicano ter vencido com tanta força é algo bem estranho (não se diz ou questiona que seja bom ou ruim).

Isso fica pra outro dia.

Ao invés disso, vou te falar de um problema muito maior. 
Mas primeiro, preciso te falar da Prima.


Prima é uma garota normal. 
Prima tem um pai e uma mãe. 
Os pais de Prima gostam muito de burrinhos azuis, e assim, ensinaram sua filha a também gostar de burrinhos azuis.




Assim, Prima aprendeu desde pequena a gostar de burrinhos azuis. Prima acha que burrinhos azuis são a melhor coisa já inventada. De vez em quando Prima encontra uma pessoa ou outra que gosta de outras coisas, mas com a ajuda dos seus pais, Prima sempre continuou convencia de que burrinhos azuis são os melhores de todos os tempos.




Assim, prima vive uma vida normal adorando burrinhos azuis, até que ela entra na universidade.



Na universidade, Prima conhece 3 outras meninas: Secunda, Tertia e Quarta. Elas logo se tornam amigas muito próximas, saindo junto e se ajudando de toda forma.




Acontece que, nesse ano, o país de Prima, Secunda, Tertia e Quarta estava tendo um grande concurso nacional. O concurso é feito a cada 4 anos, e serve para nomear o melhor animal imaginário do país.



Prima, Secunda e Tertia gostam muito de burrinhos azuis, como a maior parte das pessoas que elas conhecem, e assim tem total confiança que os burrinhos azuis irão vencer, afinal todas as três tem famílias que adoram burrinhos azuis, e todos os seus amigos adoram burrinhos azuis.



Acontece que Quarta, ouvindo isso, revela que, na verdade, ela gosta mais de elefantinhos vermelhos.

Isso deixa Prima, Secunda e Tertia muito surpresas.



Vendo isso, Quarta explica que ela gosta de burrinhos azuis também, mas os burrinhos azuis tem vencido já faz 8 anos. Os elefantinhos vermelhos já ganharam varias vezes no passado, mas já faz bastante tempo, e Quarta acha que os elefantinhos vermelhos tem boas qualidades que podem ser legais, se elas derem uma chance à eles.




As outras três ficam muito putas com isso.



Prima diz que odeia elefantinhos vermelhos, e que os burrinhos azuis são os únicos animais imaginários que tem as qualidades necessárias para ganharem o concurso, e se eles  tem ganhado os últimos concursos, é porque eles definitivamente são os melhores. 



Secunda diz que os elefantinhos vermelhos deveriam ter vergonha de serem como são, e que sempre achou eles muito feios. 



Tertia, por sua vez, diz que os elefantinhos vermelhos representam tudo o que é de pior na sociedade, e que jamais gostará deles.



Por fim, Quarta fica muito triste, mas mantém sua opinião, e pergunta se ainda pode ser amiga das outras 3.



Após uma pequena conversa, Prima diz que já teve amigos que gostavam de elefantinhos vermelhos, mas como ela os odeia, ela parou de conversar com esses amigos. 



Secunda diz que, certa vez, uma pessoa que gostava de elefantinhos vermelhos lhe ofendeu muito, então ela nunca mais conversou com qualquer outra pessoa que gostasse de elefantinhos vermelhos. 



Tertia diz que sua família tem algumas pessoas que gostam de elefantinhos vermelhos, mas ela diz que eles nunca a entenderam e a fizeram ficar triste, então ela foi morar com os tios, e evita qualquer pessoa que goste de elefantinhos vermelhos.



As três decidem que Quarta não pode mais ser sua amiga.



E assim, elas se separam.





A vida de Prima continua, e o ano também.

Prima fica triste de ter perdido sua amiga, mas Prima simplesmente não consegue imaginar-se sendo amiga de uma pessoa que gosta de elefantinhos vermelhos. Prima é confortada por Secunda e Tertia, e assim ela logo melhora e continua a sua vida.

Prima vai para casa e vê na televisão o andamento do concurso. Todos os maiores canais de notícias dizem que a vitória dos burrinhos azuis é praticamente certa.

Prima liga seu computador e acessa sua rede social favorita, e vê postagens e mais postagens de como os burrinhos azuis vencerão com muita vantagem e que são, sem nenhuma dúvida, a melhor escolha. Todos os amigos de Prima, tanto os de rede social quanto os da vida real, adoram burrinhos azuis, qualquer outra escolha parece não só absurda, mas burra.

Prima tenta imaginar o que fariam as pessoas escolherem elefantinhos vermelhos. Será que são loucos? Burros? Será que só escolhem os elefantinhos vermelhos porque tem inveja ou, pior, ódio dos burrinhos azuis?

Prima se convence de que essa deve ser a verdade. Prima se sente enojada de ter se associado a alguém que gosta de elefantinhos vermelhos.

No próximo dia, a pessoa que representa os burrinhos azuis diz, ao vivo, para uma platéia de milhares de pessoas, que as pessoas que gostam de elefantinhos vermelhos só podem ser "um monte de deploráveis".

As pessoas na televisão vibram com essa declaração. Prima respira fundo e se enche de convicção. Ela e seus amigos sempre estiveram certos, os burrinhos azuis são e sempre serão os melhores, e os elefantinhos vermelhos e os seus apoiadores são inimigos que não merecem sua atenção.

O dia da votação popular do concurso finalmente chega. Prima vai votar cheia de determinação, coloca seu voto na urna e volta para casa, onde seus amigos estão preparando uma comemoração para a inevitável vitória dos burrinhos azuis.

Os minutos passam, e os votos são contados.




Os elefantinhos vermelhos venceram.

Prima e seus amigos não acreditam. É impossível que isso tenha acontecido.

Todas as fontes de notícias que Prima viu diziam que a vitória dos burrinhos azuis era certa.
Todos os amigos de Prima estavam certos de que os burrinhos azuis venceriam.
As redes sociais de Prima fervilhavam com suporte aos burrinhos azuis.

Mas ainda assim, os elefantinhos vermelhos venceram.
Prima não acredita em nada disso, chama tudo isso de uma fraude. Diz que os elefantinhos vermelhos trapacearam, exige uma recontagem, se une a protestos contra os elefantinhos vermelhos. Afinal, no fundo de seu coração, Prima sabe que isso é uma impossibilidade.

Afinal, durante sua vida inteira, Prima só teve a sua volta pessoas que gostam de burrinhos azuis.

Ta bom, chega de retardisse, parei.

Acho que qualquer pessoa com mais de dois neurônios funcionando perceberam que isso tudo é uma analogia muito mal feita da eleição americana. Sim, intencionalmente mal feita, afinal, eu deixei de lado as características de cada candidato.

Isso é porque eu não estou falando das eleições, meus fios.

Estou falando de um fenômeno social conhecido como "echo chamber", ou "câmara de eco".

Mas tio, que porra é uma câmara de eco, e o que isso tem a ver com a eleição americana?

Câmara de eco é um fenômeno que acontece quando uma pessoa que tem uma certa ideia acaba, inconscientemente ou não, cercando-se de pessoas em seu círculo de família e amigos (digital ou real) que têm as mesmas idéias que ela, excluindo (de forma quase inconsciente) qualquer pessoa que pense de forma contrária ou ao menos diferente dela.

Isso cria um mini cosmos social que reafirma todas as idéias dessa pessoa, ao ponto que o mundo que ela enxerga parece ser majoritariamente formado por pessoas e conceitos que validam e encorajam tais ideias, o que por sua vez leva a pessoa a considerar essas ideias como uma verdade praticamente incontestável, ao ponto que isso sequestra o seu senso moral, vinculando a sua ideia do que é "bom" à essa ideia, e qualquer ideia contrária se torna, por definição, pior que o espirito do Hitler usando lingerie.

No exemplo acima, a câmara de eco foi mostrada como um fenômeno pessoal, experimentado através da perspectiva de uma única pessoa.

O problema, no entanto, é ainda maior, porque a câmara de eco pode se manifestar em grupos de pessoas, sendo esta a sua forma mais conhecida, porque é bem mais visível. A câmara de eco grupal acontece quando uma série de pessoas com uma câmara de eco pessoal (subjetiva), passam a criar uma câmara de eco coletiva (objetiva ou grupal). É daí que vem o termo "Câmara de Eco", pois é como se a pessoa, ao falar de suas ideias, apenas ouvisse sua própria voz novamente, pois nesse grupo todas as pessoas tem as mesmas ideias. Outras ideias são excluidas e nem ao menos consideradas, o que é algo potencialmente bem perigoso.

Você deve estar se perguntando "o que há de absurdo nisso? É bem comum que pessoas com ideias parecidas formem grupos". De fato, isso é normal, e boa parte das convicções políticas e algumas religiões de hoje são apenas enormes câmaras de eco, o que é problematico, porque desistimula a discussão e prejudica a formação de visões críticas e realistas, mas esse não é todo o problema.

A maior parte do problema surge quando a câmara de eco se forma em um grupo ou comunidade em que, originalmente, essas ideias não são compartilhadas por todos.

Quando uma câmara de eco surge em um grupo ou comunidade em que as ideias tidas por ela como "boas" não tem o suporte de todos, duas coisas acontecem, dependendo da parcela desse grupo que é dominada pela câmara de eco:

1-Se câmara de eco abrange apenas uma minoria no grupo maior em que ela existe, os integrantes da câmara de eco tornam-se mais avessos a interação com os outros membros do grupo maior, o que gera tensão social. Reconhecendo seu status de minoria, a câmara de eco tende a pensar em si como um tipo de elite intelectual, superior à maioria das pessoas (pois as outras pessoas não pensam como eles, e portanto são loucas ou burras), ou se acham excluídas ou odiadas pelo grupo maior, quando de fato o conflito é causado originalmente pela atitude da própria câmara de eco, sendo que o grupo maior apenas reage às suas ações, reações que podem tomar várias formas, já que o grupo maior não tende a ser mais diverso e aberto à discussões. A câmara de eco pode tentar assumir o controle de posições de poder dentro do grupo maior, para assim tentar atrair mais pessoas para a câmara de eco e ter maior controle dos dissidentes. Em algumas situações, é possível que existam câmaras de eco "escondidas" dentro de outras câmaras de eco;

2-Se a câmara de eco abrange a maior parte dos integrantes do grupo no qual ela está contida, ela sempre tende a tentar tomar o controle do grupo para si, excluindo qualquer pessoa que discorde de suas ideias ou forçando-as a aceitar tais ideias, ameaçando os dissidentes de todas as formas que pode, direta ou indiretamente, de forma aberta ou tácita. Essa tomada de poder resulta do sentimento de superioridade dos integrantes da câmara de eco, ou ao menos do ter plena convicção que suas ideias são as melhores coisas para o grupo. A mesma coisa pode acontecer quando a câmara de eco é uma minoria poderosa, tendo poder suficiente para tentar controlar a maioria.

É importante mencionar que as pessoas que integram uma câmara de eco não são "pessoas ruins". Elas (na enorme maioria das vezes) não são maliciosas. Sua atitude resulta de terem plena e total convicção de que as suas ideias constituem uma verdade incontestável, acima de qualquer crítica ou dissidência. Ou seja, elas estão certas e você, se discordar delas, está errado.

E o que isso tem a ver com o resultado das eleições americanas? Bem, em relação a todo esse pessoal inconformado que o Trump ganhou, tudo e mais um pouco.

O que aconteceu nessas eleições foi a expansão de uma câmara de eco preexistente à níveis mundiais.

A grande parte da mídia internacional e nacional adulou Hillary do começo ao fim. Claro, houve dissidência, mas tudo era, em grande parte, desconsiderado. Os múltiplos escândalos de Hillary, desde as mortes em Benghazi e dos emails até o assedio sexual perpetrado por um de seus principais assessores, foram todos levados "à banho maria" ou mesmo ignorados pela maior parte da mídia, enquanto as doideiras de Trump (que não são poucas, afinal, ele tem seus próprios escândalos) sempre eram manchete. Trump virou o dêmonio racista misógino superhitler anticristo, e Hillary se tornava a própria Ave Maria.

Resultado disso? Apoiadores de Trump, pobres, médios e ricos, qualquer um, foram todos chamados de racistas, haters, caipiras, ignorantes e, nas palavras da própria Hillary "a basket of deplorables" (algo como "um monte de deploráveis", ui). Sim, uma candidata a presidência chamou, ao vivo e a cores, em pleno comício assistido por milhares de pessoas, todas as pessoas que apoiam Trump de deploráveis. 

Esse é foi o naipe do discurso de Hillary. Ela não só foi capaz de descer a este nível, mas como foi capaz de superar as próprias palavras dos discursos bombásticos e emocionais de Trump, mas com característico ar de superioridade, como alguém que não estivesse falando de seres humanos, mas de criaturas inferiores.

E incluiu metade do povo americano nessa definição.

Acontece que Hillary, sua campanha, os democratas e seus apoiadores todos tinham plena fé na sua vitória. Tudo virou uma câmara de eco gigantesca, mais parecida com um culto do que com uma campanha política. Tudo a favor de Hillary era ótimo, tudo contra Hillary era o superhitler anticristo da KKK vestido de Dercy Gonçalves usando jequiti carregando uma cruz em chamas.

Assim, os apoiadores de Trump, em grande parte apenas pessoas pobres que procuram emprego, brancas, negras, latinas e asiáticos, etc, se viram não só abandonados pela campanha democrata, mas verdadeiramente excluídos. Tive amigos que foram excluídos de comunidades, forums  e tópicos online apenas por dizerem que Hillary era a pior escolha que o partido democrata poderia ter feito. Pessoas foram excluidas de grupos no Reddit por apoiarem Trump, pessoas foram mutadas no Twitter e no Facebook após serem reportadas em massa por apoiadores de Hillary (mesmo sem motivo), e até democratas que preferiam Bernie Sanders no lugar de Hillary foram excluídos de discussões.

Por fim, a grande maioria decidiu parar de perder tempo discutindo e resolveu fazer sua voz ser ouvida nas urnas.

E Trump venceu.

Hillary, com apoio quase total da mídia, de billionarios do Wall Street (hello hello, Soros), e da maior parte da classe média alta urbana americana (que constituem uma parcela bem maior da população do que a brasileira), perdeu feio. E perdeu porque tratou sua campanha como mera formalidade, porque tinha plena fé em sua vitória, assim como todos seus apoiadores.

Hillary e companhia foram vítima da câmara de eco que montaram para eles mesmos.
Nesse mini universo paralelo, tudo parecia pro Hillary.

Mas sabe, meus fio, o maior problema da câmara de eco não é nem que ela cria conflitos sociais enormes e exclusão social.

É porque ela te impede de enxergar a realidade de forma crítica.

É porque ela não te deixa perceber que, sim, existem pessoas que discordam de você.

E ela não te deixa ver que isso, na verdade, é uma coisa boa.


Até a próxima meus fio.

quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Identidade, Sociedade e Divisão

Ou: porque temos de parar de julgar as pessoas pelo o que achamos que elas são, e começarmos a julgá-las pelo que fazem.
Meus fio, acho que nem preciso gastar tempo escrevendo esse primeiro parágrafo, mas melhor já deixar isso claro: eu não gosto de falar de política.
A razão é a mesma por trás do porquê eu não gostar de falar de religião.
Toda vez que eu abro a boca para falar de qualquer desses assuntos, alguém me veste de uma coisa ou outra, e param de escutar o que estou falando para repararem em como eu fiquei com as roupas com as quais me vestiram. 
Eu não gosto disso porque, na maioria das vezes, não gostam de como fiquei, passam a me odiar e vão embora. (nota: Confesso, não sou bonito, e agradeço todo dia por ter encontrado uma namorada que, milagrosamente, enxerga tudo perfeitamente, mas parece ser completamente míope quanto à minha pessoa, porque ela diz que eu sou lindo, aquela doida)
Eu também não gosto das poucas vezes que as pessoas gostam de como eu fiquei com as roupagens que me deram, porque isso também as impede de ouvir o que estou falando e verem o que estou fazendo, na maior parte das vezes.
Eu gosto quando as pessoas são indiferentes.
Indiferentes quanto ao que eu pareço ser, mas não quanto ao que estou fazendo, ou ao que estou dizendo.
Vou deixar o texto menos cansativo agora. Serei mais direto.
Na sociedade de hoje, todo mundo adora ter uma identidade, algo que te define de acordo com alguns valores pré-concebidos, como se você usasse uma roupa que mostrasse à todos que tipo de pessoa você é, antes mesmo delas sequer cumprimentarem você pela primeira vez. As pessoas fazem isso voluntariamente, e até se desesperam quando estão confusas quanto ao que elas são. Por isso vemos todos se definindo, "eu sou cristão", "eu sou ateu", "eu sou de direita", "eu sou de esquerda", "eu sou o espirito da Carmen Miranda dançando a macarena", "eu sou o Jeremias da voadora", "eu sou narcoléptico", etc.
Isso não é um problema.
Ter uma identidade é normal, todo mundo se identifica com algo que elas gostam, não há grandes problemas com isso. Ao menos, esse fenômeno, por si só, não causa problemas à civilização ou à sociedade.
As vezes isso pode ser muito bom, porque cria união, e se essa união não for exclusória às coisas que existem foram dela, então isso pode se tornar algo maravilhoso. As melhores organizações e civilizações da história surgiram dessa forma, e se caíram, é porque fugiram dessa prática, ou a executaram mal.
O problema verdadeiro começa quando a sociedade, em sua maioria, começa a definir quais identidades ela gosta, e quais ela não gosta.
Ah, isso sim é um problemão.
Como eu sou besta, eu vou criar um exemplo besta para ilustrar como isso é muito, muuuuito ruim. Aliás, toda semelhança com nosso Brasil é só coincidência mesmo, afinal esse exemplo é aplicável a praticamente toda a sociedade humana moderna em geral.
Melhor ainda, vou fazer isso com ilustrações toscas que eu fiz agora no paint.


Em uma sociedade temos um grupinho, os "barbixas". Os barbixas são pessoas que, apesar de não formalmente integrarem um grupo na melhor acepção do termo, formam um grupo social devido à sua identidade similar. Todos os barbixas tem ideias parecidas, e embora eles discordem de uma coisa ou outra entre eles, no fim das contas a sua identidade é praticamente homogênea no seu estado mais básico. Eles tem hábitos similares, gostam de artistas parecidos, leem coisas parecidas ou idênticas, etc. A sociedade em geral gosta dos barbixas, porque ALGUNS barbixas já fizeram coisas legais para a sociedade no passado, então a sociedade passou a enxergar TODOS os barbixas como pessoas super legais ou, como diz o Tiririca, "meninos lindos".

Devido a isso, muitos barbixas acabam ocupando grandes posições na sociedade, e assim se tornam ainda mais populares. Muitos se tornam formadores de opinião e líderes em geral, mesmo que a gigantesca maior parte deles não tenham nada a ver com os barbixas que, algum dia, ajudaram a sociedade de uma forma ou outra. Alguns barbixas já fizeram coisas ruins, algumas BEM ruins, mas isso é bem escondido e desconversado, algo fácil porque os barbixas são vistos como excelentes pessoas em geral, e usam sua influência para não deixar que essas coisas destruam sua popularidade, escrevendo livros para mudar esses fatos, notícias em jornais, etc.

Beleza, só que a sociedade não é composta só de barbixas, lógico, ou se chamaria barbixedade ou algo besta assim. Os barbixas não compõe nem metade da sociedade, embora pareça que eles sejam os donos de tudo, porque têm grande influência.

No entanto, tem outro grupo que tem similar influencia na sociedade, os "calvos". Os calvos, como os barbixas, não são um grupo formalmente organizado ou definido, mas são agrupados socialmente porque tem ideias similares e gostam de coisas parecidas. Os calvos já foram os mais populares da sociedade, e por isso ocupam vários lugares importantes nela, mas perderam seu lugar para os barbixas, que hoje são os mais populares. Vários calvos já fizeram ótimas coisas pela sociedade, e outros fizeram coisas ruins, mas por hora os calvos são bem vistos em geral, embora essas coisas ruins tenham sido a causa da queda de popularidade que os tirou do primeiro lugar na sociedade.

Acontece que os barbixas e os calvos não se dão muito bem. Por serem muito diferentes e opostos em idéas, os barbixas e os calvos entram em conflito muitas vezes. Os conflitos abalam a sociedade, porque a sociedade gosta dos dois grupos, mas mão é composta de nenhum deles totalmente, nem dos dois juntos somente, sendo que existem vários outros grupos menores. Vamos chamar esses grupos menores de A, B, C e D, pra simplificar.

Muito bem, os barbixas, em lugar de poder na sociedade, começam a perceber que muitos barbixas então começando a fazer coisas ruins, abusando do poder que agora tem. Isso está se repetindo cada vez mais. Os barbixas estão preocupados e tristes com isso. O problema, no entanto, é que eles estão AINDA MAIS preocupados com o fato de que, devido a isso, os calvos vão ganhar popularidade, por se oporem a essas ações ruins dos barbixas. Ainda pior, se os barbixas trabalharem para punir os barbixas que fizeram coisas ruins, eles acham que estarão se enfraquecendo, e ainda ficaram ainda mais incapazes de reagir a uma investida dos calvos.
Mas os barbixas não são bestas (como eu), e sabendo que tem grande poder e influência, usam isso para esconder todas as coisas ruins que estão acontecendo.
Acontece que, nesse processo, o grupo menor "A" acaba sendo prejudicado pelas coisas ruins que os barbixas estão agora escondendo. O grupo "A" tenta conversar com os barbixas sobre as coisas que aconteceram, mas são ignorados e chamados de mentirosos. O grupo "A", embora seja importante para a sociedade, pois faz muita coisa boa junto com os outros grupos, é uma minoria, e não tem poder para impedir os barbixas.

Enfim, os calvos percebem o que está acontecendo, e sendo o maior oponente dos barbixas, ve nisso uma grande oportunidade para retomar seu lugar de primazia na sociedade. Assim, eles questionam os barbixas sobre tudo o que está acontecendo, descobrir os podres dos barbixas e os expõem.
Os barbixas, ultrajados, contra-atacam. Usando seu poder e influência, começam a pintar os calvos de demônios, vilões que odeiam tudo que não seja calvo.

Ai a coisa fica feia. O grupo B, que sempre foi super amigo dos barbixas, e ensinado a acreditar neles desde o berço, ataca os calvos também. O grupo B não sabia dos podres dos barbixas, mas mesmo quando esses são expostos, eles não acreditam, em parte por serem amigos dos barbixas, em parte porque ALGUNS calvos já lhe fizeram algum mau no passado, e em parte porque foram sempre ensinados a gostar dos barbixas. O grupo C fica indignado com a atitude dos barbixas, em parte porque ALGUNS barbixas lhe fizeram mau no passado, e em parte porque eles sempre trabalharam junto dos calvos, e tinham grandes vantagens quando estes eram os primeiros na sociedade. O grupo D não faz porra nenhuma porque, bem, ele nunca teve muito interesse em nada disso.
O grupo A fica desolado, porque os podres dos barbixas os afetaram muito, mas eles tem muito medo de se unirem aos calvos, porque os barbixas são muito fortes, e são cercados de muitos barbixas. O grupo A teme ser eliminado se ele for contra os barbixas, porque são uma minoria fraca, mas também não querem se unir a eles porque foram mal tradados por eles. O grupo A também não confia nos calvos, porque sabem das coisas ruins que eles já fizeram quando eram os primeiros.
Assim, o grupo A tenta ficar neutro, e torce pra tudo acabar bem.

O tempo passa, o conflito se amonta, e no fim das contas, ninguém mais se importa com quem fez o quê. A coisa vira preto no branco, bem contra o mau. Ninguém mais se importa se você é bom ou mau, mas apenas se você é barbixa ou calvo. Não importa quem vença, o grupo A será eliminado, porque o grupo A não é barbixa, nem calvo.
Ta bom, parei. Chega do exemplo besta, mas deu pra entender, né?
Na nossa sociedade, o problema começa quando alguém define algum grupo ou identidade como sendo ruim, seu inimigo, ao ponto que eles se tornam "alvos aceitáveis". Um grupo ou identidade se torna um alvo aceitável quando atacar eles se torna um meio de ascensão social, ou visto como socialmente benéfico. Isso é o pior que pode acontecer com qualquer sociedade.
Outro enorme problema, que geralmente leva ao primeiro, é quando definem outra identidade como boa, amiga de todos, ao ponto que ninguém mais se importa com as ações dessas pessoas. Tudo de ruim que fazem é ignorado ou distorcido para ser bom, e tudo que fazem de bom é agigantado artificialmente, sendo atribuído muito mais mérito do que realmente merece.
E não caia na besteira de que eu estou falando de criminosos. A sociedade não gosta de criminosos por causa de suas AÇÕES. Todos podem e devem ser julgados por suas AÇÕES.
Mas ninguém deve ser julgado pelo que ACHAMOS QUE SEJAM.
Devemos ser capazes de abraçar aqueles que são diferentes, mas praticam boas ações.
Devemos ser capazes de condenar aqueles que são similares a nós, mas que cometem crimes.
Ou, pra ficar mais simples: condene os criminosos, abrace os inocentes, independente de quem ou o quê sejam, e de você gostar deles ou não (ou deles gostarem de você ou não).
Quanto a mim, bem, eu não sou ninguém. Acho que sou uma besta. Gosto de pensar que um dia serei alguém, ou alguma coisa.
Mas o que eu realmente espero é que um dia eu deixe de ser algo ou alguém.
Não para ser nada, pois é impossível "ser nada", é contraditório, porque o nada não é nada.

Um dia, espero apenas "Ser".

quarta-feira, 16 de novembro de 2016

O homem. A lenda. A testa.

Meus fio, antes de falar qualquer coisa sobre Elon Musk, eu primeiro preciso falar um monte de besteira que, ao primeiro ver, não tem coisa nenhuma a ver com o assunto principal desse artigo.
Sabe, existe esse jogo de estratégia de mesa chamado Warhammer 40.000 da Games Workshop, que é bem popular na Europa Ocidental e nos Estados Unidos. O universo do jogo existe num futuro distante e depressivo da nossa galáxia. Nesse universo, a humanidade é cercada de ameaças à sua existência, na forma de alienígenas que adorariam ver bilhões de humanos queimando, demônios (sim, demônios no espaço, é complicado) e humanos traidores. A humanidade não tem aliados, e a única coisa que protege a infinidade de mundos colonizados pelos humanos são as heroicas forças do Imperium do Homem.

Algo tipo o Império Romano, só que no espaço sideral, e mais dourado, e com "um" ao invés de "o" no final.

Imperium é uma super teocracia que tem como seu líder supremo e único objeto de adoração o homem-deus apenas conhecido como “O Imperador”. O Imperador é, ironicamente, um ser sobre-humano, um verdadeiro ubermensch ao pé da letra e além. Ele é um ser antiquíssimo que existe desde os primórdios da civilização humana e tem protegido e tentado guiar a humanidade desde o inicio das eras, de trás de vários disfarces (na história original, o imperador é a verdadeira identidade de Jesus Cristo, Buddha, Carlos Magno, Alexandre o Grande, Conan o Barbaro, Chuck Norris, Andre o Gigante, Aragorn, Saitama, e Batman). 
Depois de falhar por muito tempo no seu plano de elevar a humanidade acima das estrelas apenas através de exemplo e influência, o Imperador decidiu tomar o controle de tudo diretamente, e, após se revelar em um momento de extrema crise na história da humanidade, fundou o Imperium e levou a humanidade para conquistar as estrelas, trazendo gigantescos avanços em tecnologia de viagem interplanetária, armamento bélico, genética e uma cacetada de coisas (esse é um resuminho bem básico, a história inteira nem foi terminada ainda e conta com dezenas de livros).

O Imperador, visto aqui usando sua sunga dourada favorita.

Mas enfim, o que diabos isso tudo tem a ver com Elon Musk?
Agora, por um minutinho, vamos fingir que o Imperador realmente existe, e que Elon Musk é apenas mais um de seus infinitos disfarces.
No entanto, se Elon Musk é o Imperador disfarçado, eu só posso dizer que ele é muito ruim de disfarce, porque tá muito na cara que SÓ PODE SER ELE.

#teamstark? #teamcap? Pffft, eu sou #teammusk

Enter Elon Musk.
Elon Musk nasceu em Pretória, na África do Sul, filho do Engenheiro Eletromecânico Errol Musk e a modelo Maye Haldeman, de Saskatchewan, Canadá. Seus pais se divorciaram quando ele era ainda pequeno, e ele morou com seu pai na África do Sul durante a maior parte da sua infância.
Elon Musk era uma criança bem precoce por natureza. Seu irmão Kimball diz que Elon passava mais de 10 horas por dia lendo sobre ciência, tecnologia, e ficção científica. Ele desenvolveu um interesse por programação aos 10 anos, após ganhar um venerável Commodore VIC-20 de seu pai, que veio com enormes 5 kilobytes de memória e um livrinho intitulado "Como programar". Durante os próximos 2 anos, Musk aprendeu a programar sozinho, criou um jogo que chamou de Blastar e vendeu o seu código pela quantia de US$ 500,00 (quinhentos dólares). Aliás, o jogo foi adaptado a html5 e pode ser jogado através deste site.

Blastar. Que foi? Até parece que você fez algo melhor durante sua infância

A partir da quarta séria, Musk passava sua dezena de horas diárias enterrando seus olhos na Encyclopedia Britannica. Devido ao seu comportamento peculiar, Musk teve uma infância difícil, e já chegou a ser hospitalizado após levar uma surra de um bando de garotos, até ele perder a consciência.
Musk nunca sentiu uma conexão forte com a África do Sul. Além de não ter tido uma infância solitária, sem amigos que compartilhassem de seus interesses, o país era um pesadelo para qualquer empreendedor sério, como um certo país que nós conhecemos e que começa com a letra B.
Sabendo disso, Musk estudou principalmente em escolas privadas, e após se graduar no ensino médio, acabou mudando para o Canadá pouco antes do seu aniversário de 18 anos, após conseguir a cidadania (através de sua mãe canadense).
Musk, tendo um grande interesse por ciências e tecnologia desde cedo, sempre quis ir ao Silicon Valley, nos Estados Unidos, conhecido até hoje como o lugar onde mentes brilhantes pavimentam o futuro da humanidade, onde estão relativamente protegidas da politicagem insana que assola o mundo.
Assim , cerca de dois anos após ser admitido na Queen’s University em Kingston, Ontario, Musk conseguiu transferência para a Universidade de Pensilvânia, onde ele se tornou Bacharel em Física e Economia. Após algumas aventuras e depois de ter ganhado um dinheiro depois alugar um prédio de dez quartos e usá-lo como uma boate, aos 24 anos, após suas graduações, Musk se mudou para a California para começar um Doutorado em Física Aplicada na Universidade de Standford.
Durante esses anos de faculdade, Musk sempre dizia que queria fazer algo pela humanidade, fazer as coisas mudarem de uma forma radital. Então, ele pensou bem nas tecnologias que mais afetariam a humanidade nas próximas décadas. Ele fez uma pequena lista mental que incluía a internet, energia renovável, viagem especial, colonização de outros planetas, inteligência artificial e até reprogramar o código genético da humanidade.
Isso lembra de algum personagem do qual estávamos falando agora pouco?
Apenas dois dias após iniciar seu curso, Musk desistiu de tudo para perseguir seus sonhos de empreendedor, vendo o enorme potencial da internet, e impulsionado por suas ideias visionárias.
Foi aí que ele teve a ideia de tentar conseguir um emprego em uma das gigantes da internet na época, a Netscape. E lá foi ele!

A Netscape, pra quem não sabe, criou um dos primeiros navegadores de internet que eram relativamente fácil e intuitivo de se usar. Sim, esse tijolo era tecnologia de ponta pra época

Só que ele meio que entrou no lobby do prédio da Netscape, teve uma crise de timidez e ansiedade, e saiu de fininho.
Pois é, até Elon Musk teve péssimas experiências durante entrevistas de emprego.
Depois desse começo nada impressionante, Elon Musk decidiu juntar forças com seu irmão e juntos criaram a Zip2, um tipo de Google Maps da época, na época em que o Google Maps não era nem um projeto na cabeça de algum empreendedor. A ideia básica era que as famosas e já arcaicas “páginas amarelas” das listas telefônicas iam logo sair de circulação, e poderiam ser bem substituídas por um diretório online que mantivesse todas as informações. Os irmãos Musk não tinham dinheiro algum, dormiam no escritório e o próprio Elon sentava-se na frente do computador, trabalhando feito escravo por umas 12 horas por dias ou mais. O motivo disso tudo é que, naquela época, ainda era muito difícil convencer grandes empresas de que a internet seria algo MUITO IMPORTANTE no futuro próximo, e que elas deveriam, tipo, investir um pouquinho nisso, sabe?

A uns dez anos atrás, isso aqui era uma idiotice para a maioria dos empresários

Alguns empresários até disseram que anunciar na internet parecia ser a coisa mais idiota que eles já tinham ouvido! Isso a mais ou menos vinte anos atrás, apenas vinte anos atrás. Mesmo assim, os irmãos Musk começaram a ganhar alguns clientes aqui e acolá, e a empresa cresceu. No meio da explosão de desenvolvimento econômico e tecnológico dos anos 90, muitas empresas, incluindo a Apple, estavam sendo adquiridas a preços milionários por grandes grupos corporativos, aparece a Compaq e compra a Zip2 dos irmãos Musk por uns 302 milhões de dólares. Musk, que só tinha 27 na época, ficou com 22 milhões só pra ele.
Esse é o ponto inicial de uma inescapável tendência na vida de Elon Musk, que continua até hoje: logo após sair de um grande empreendimento, ele pula direto em um outro, bem maior e mais desafiador que o último.
A maioria dos milionários modernos, ao conseguir essa quantia, sairiam da vida de mero mortal pra entrar no paraíso dos investidores e viver uma vida de prazer material sustentada por investimentos altos, porém seguros. Compraria um monte de casas e prédios ou algo assim, alugariam tudo, e ficariam “de boas” pro resto da vida. Se ele ainda quisesse ter algumas aventuras de empresário, poderia abrir uma empresa com alguém, com dinheiro de outras pessoas, pra administrar como bem entendesse.
Mas estamos falando de Elon Musk. É aí que ele resolve criar o que seria basicamente um “banco online”, uma ideia extremamente corajosa e arriscada para a época, pois a mera ideia de uma pequena empresa de serviços de internet competir com bancos gigantescos era algo absurdo de se pensar na época. Musk chamou essa nova empresa de X.com.
Acontece que, no mesmo prédio onde funcionava a X.com, uma outra empresa chamada Confinity também foi criada, com uma ideia muito parecida, inclusive. A X.com desenvolveu um genioso sistema de transferência de dinheiro, algo que a Confinity também fez, algum tempo depois. Logo, as duas empresas se viram travando uma feroz competição por clientes, o que acabou idealizando uma fusão entre as duas, após algum tempo, formando algo nada importante que nós conhecemos hoje como “Paypal”.

Sim, esse Paypal

A fusão juntou egos enormes e interesses conflitantes dentro da mesma empresa, e Musk, o maior executivo da Paypal, acabou sendo vítima de um complô dentro da empresa, o que lhe tirou seu cargo de executivo, sendo substituído por Peter Thiel. Musk hoje diz que ele entende porque isso aconteceu (algo que talvez se tornará mais evidente depois, nesse texto), mas que ele sempre discordou dessa decisão. Ele ainda permaneceu na empresa como um executivo sênior, e teve um importante papel na venda da Paypal para o Ebay por mais ou menos 1,5 bilhão de dólares. Elon Musk, sendo o maior acionista da empresa, saiu com 180 milhões só pra ele.
Isso, conforme eu disse antes, só impulsionou Musk a entrar uma outra empreitada, maior e mais desafiadora ainda. Em 2002, ainda antes da venda da Paypal, Musk já estava lendo obsessivamente sobre tecnologia de propulsão de foguetes, e ainda em 2002, fez algo que qualquer grande milionário da época consideraria uma idiotice tão gigante que faria os discursos da Presidente Dilma parecerem sábios em comparação: Ele criou uma empresa de foguetes chamada SpaceX, pretendendo não só prosperar como uma empresa privada em um ramo totalmente dominado por agências governamentais como a NASA, mas também revolucionar o transporte espacial de pessoas e coisas. Musk alimenta essa empresa com um investimento inicial de 100 milhões, saídos diretos de sua carteira.
E pouco mais de um ano depois, em 2004, Musk inventa um projetinho básico, criando uma segunda empresa que produziria carros elétricos, chamada Tesla, com o propósito de “iniciar o advento de um mundo dominado por carros elétricos” para “dar um grande salto em direção a um futuro cheio de energia renovável”. Musk também colocou uns 70 milhões de seu próprio bolso nisso. Importante salientar que, nessa época, a última vez que um grande empreendimento de carros elétricos tinha deu certo foi... Nunca.
Ah, tem mais uma coisa, em 2006 ele jogou uns 10 milhões de seu bolso para fundar, com alguns parentes, uma empresa chamada SolarCity, com o objetivo de revolucionar a tecnologia de produção de energia solar, para instalar painéis solares em milhões de casas, acelerando a adoção de energias renováveis e fazendo a sociedade abandonar energias advindas da queima de combustíveis fósseis.
Só pra dar uma ideia melhor para o brasileiro médio do quão absurda essas ideias pareciam na época, seria como se a RedeTV exibisse um episódio de jornada nas estrelas ao mesmo tempo que o SBT, a Globo e a Record exibissem um jogo da Copa do Mundo, e esperasse ter uma audiência similar, se não maior que a das outras três emissoras juntas.

Não, a RedeTV nunca exibiu episódios de guerra nas estrelas, mas seria interessante ver o João Kleber passar uma hora dizendo que iria revelar se o Geordi é gay ou não.

E mesmo assim, lá vai ele, se aventurando pelas trevas misteriosas do meio empresarial americano. Isso tudo a apenas uns 10 anos atrás.
Na visão de muita gente, isso tudo parecia um desastre gigantescamente cômico e triste esperando para acontecer. Um empreendedor totalmente fora de si jogando sua fortuna fora com projetos insanos alimentados por sonhos de uma criança amante de ficção-cientifica.
E parecia que era exatamente isso que estava acontecendo. Tudo bem, a SpaceX estava fazendo foguetes. Lindos foguetes que faziam muita luz, faziam “tchuuuuuu” e iam pro ar gloriosamente, e explodiam depois. Nenhum investidor iam sequer olhar pra SpaceX se ela não criasse ao menos um foguete que funcionasse, e funcionasse bem. Após três lançamentos desastrosos, Musk só tinha fundos pra um quarto e último lançamento. Se esse último foguete não funcionasse, a SpaceX iriam pro ralo da história dos empreendimentos.
A Tesla também estava uma bela merdinha. Ao final de 2007, a Tesla sequer tinha terminado seu primeiro carro, o Tesla Roadster, que, aliás, não estava atraindo a atenção de muita gente. E ainda por cima, a economia global meio que gritou “eita porra” e caiu de cabeça bem no nariz da indústria de automóveis, que foi parar no hospital e, de acordo com alguns especialistas, não teve alta até hoje. Isso secou o rio de muitas empresas do setor automobilístico, especialmente as mais novas e sem credibilidade, a Tesla parecia afundar em uma área movediça sem fim ou esperança de melhora.
Ah, e o casamento de Musk meio que explodiu, terminando num divórcio doloroso.
Poof, tudo de bom e brilhante na vida de Elon Musk parecia fadado a um fim deprimente e inglório.
E foi aí que, como que por um milagre, as coisas começaram a mudar.

Segura essa treta, mundinho

Em 2008, a SpaceX lançou seu quarto foguete, que funcionou maravilhosamente bem, indo pra a órbita e voltando. Importante frisar aqui que os últimos 3 foguetes nem tinham chegado à orbita. Aí a NASA vem e diz “eita porra fio, vamos ver do que você é capaz” e dá nas mãos de Musk um contrato de 1,6 bilhões de dólares para que a SpaceX realize um monte de lançamentos para a NASA.
E, acredite se quiser, no dia seguinte a isso tudo, quando Musk tinha acabado de juntar um dinheirinho pra fazer a Tesla continuar andando, os seus investidores resolvem, relutantemente, aumentar seus investimentos na Tesla. Alguns meses depois, 50 milhões em investimentos são injetados na Tesla. A salvação havia chegado.
Elon Musk, que estava caindo em um abismo sem fim, de repente saí voando dele, para cima de tudo e de todos. Desde então, a SpaceX lançou uns 20 foguetes, quase todos bem sucedidos (com exceção de um, alguns meses atrás, que explodiu ao aterrissar porque uma das suas pernas de sustentação quebrou por causa de um defeito na estrutura metálica), todos eles a preços bem inferiores aos preços normais para lançar coisas pra fora da atmosfera, e a SpaceX entrou pro seleto grupo de entidades que já lançarem foguetes para a órbita do planeta e voltaram, esses sendo os Estados Unidos, China, Russia... e SpaceX.
Ah, e a Tesla? Bem, a Tesla lançou o Tesla Modelo S, que foi um gigantesco sucesso entre consumidores, e que está prestes a lançar o Tesla modelo 3, um modelo bem mais econômico que será acessível a muito mais gente. Tudo isso contribuiu para que o valor de mercado da Tesla quase alcance 30 bilhões nos dias de hoje, sem falar que sua gigantesca fábrica em Nevada irá mais que duplicar o suprimento mundial de baterias de íons de lítio.
A SolarCity agora é a maior instaladora de painéis solares dos Estados Unidos, com um valor de aproximadamente 6 bilhões, está construindo a maior fábrica de painéis solares dos Estados Unidos e está trabalhando com a Tesla na produção da PowerWall, uma revolucionária bateria solar que será facilmente capaz de prover energia suficiente para qualquer casa e torna-la independente da rede elétrica comum.
Depois de quase quebrar seu patrimônio inteiro, Musk gerou 30 mil empregos, uma imensa quantidade de riqueza, incríveis e revolucionários avanços na tecnologia que irão chacoalhar o mundo todo e hoje, Elon Musk vale mais ou menos uns 13 bilhões, de acordo com a Forbes.
Ah é, esqueci de dizer que Musk tem um grande interesse em estudar tecnologias que podem reescrever nosso código genético, para tornar a espécie humana melhor. Isso porque Musk não vê grande futuro para humanidade, a não ser que nós mudemos o que somos.
Esse cara, meus amigos, é o Homem de Ferro de verdade. Aliás, quem assistiu o filme e prestou bastante atenção, pode perceber que o próprio Musk aparece no filme. Isso é porque Robert Downey Junior, o ator que interpretou Tony Stark, passou uma semana com Musk antes de atuar, para tentar assimilar seu jeito de ser.

Aqui nós vemos duas pessoas e o homem de ferro. O homem de ferro está a direita, os outros dois são só atores.

Sim, meus fio, o seu querido homenzinho de ferro, que vocês tanto adoram postar no facebook, twitter e tumblr, como um levante neo nerd bestoso, é baseado em Elon Musk, o verdadeiro Homem de Ferro.
E é nessas horas que eu, um cidadão brasileiro, tão aturdido por gritos histéricos de militantes e políticos toscos e retrógrados, ainda tenho esperança. Isso porque eu sei que, lá fora, em algum lugar, o progresso da humanidade marcha a passos largos, passando por cima de qualquer pseudo intelectual politizado, que tanto assola nossa sociedade de hoje. E a história nos ensinou muito bem que sempre houve grande resistência ao progresso, mas o progresso sempre foi vitorioso, no final.
Então, meus fio, daqui 200 anos, quando a humanidade tiver colonizado Marte e nossa sociedade tiver superado as mazelas da crise energética e inteligências artificiais sobre humanas existirem conosco, lado a lado, não agradeça a qualquer partido, ou político, ou pastor, ou padre, ou mesmo ao cadáver de Steve Jobs (que não fez muita coisa em matéria de tecnologia, na verdade).



Agradeça a Elon Musk.